PROTESTOS? MANIFESTAÇÕES? O QUE HÁ DE ERRADO NO BRASIL?
Primeiro
foram os protestos pelos aumentos excessivos no custo do transporte coletivo e a
mídia tentou ridicularizar o movimento alegando que era muito estardalhaço só
por 20 centavos. Depois foi a enorme vaia para a Dilma e outros políticos no
estádio Mané Garrincha e, novamente tentaram descaracterizar o movimento
dizendo que era apenas uma reação da classe média que chorava de barriga cheia.
Ora,
seja pobre, miserável ou classe média somos todos cidadãos brasileiros e temos o
mesmo direito e o mesmo dever em protestar diante do descaso da classe política
com a população. Aqueles que apontam o dedo tentando deslegitimar o movimento
querem segregar. É a velha história: dividir para conquistar. Pois eu conclamo
a todos os cidadãos que não se deixem levar por esses discursos e exerçam os
seus direitos.
Por
que vamos às ruas? Bem, essa questão tem muitas respostas e é por isso que alguns espertalhões criticam a falta de
"unidade" do movimento, mas é justamente essa "falta de unidade"
que expressa o descontentamento geral. O povo não está descontente apenas com o
preço de uma passagem de ônibus, como a mídia insiste em afirmar, mas com toda
uma conjuntura política de corrupção e oportunismo. Tenta-se calar a boca do
povo com migalhas, isso pode funcionar por um tempo, mas não eternamente.
Só
para falar de alguns problemas, não há infraestrutura pública, como a de
transportes, por exemplo. O transporte de cargas no Brasil custa até três vezes
mais do que nos EUA ou na Europa, onerando toda a cadeia produtiva. Por quê?
Porque no Brasil quase a totalidade deste transporte é rodoviário. O transporte
feito quase exclusivamente por caminhões sobrecarrega o trânsito, aumenta a
poluição e contribui para o número de acidentes em rodovias. Quem lucra com
isso? Para citar apenas um exemplo: as concessionárias de pedágio!
Em
nome de uma pretensa conservação das rodovias as concessionárias cobram
quantias exorbitantes, fazendo que o custo do transporte seja duplicado. Nas
rodovias do Paraná, um automóvel sem reboque paga até R$ 0,16 por quilômetro,
se for um caminhão esse valor é multiplicado pela quantidade de eixos. Tudo
isso é mais odioso ainda, quando lembramos que durante anos o governo cobrou a
CIDE, um imposto embutido no preço dos combustíveis e que supostamente era para
a manutenção destas mesmas rodovias. Enquanto se investe mais de 28 bilhões de
reais em estádios de futebol, o governo federal alega que não há recursos para
a construção de alternativas ao transporte rodoviário.
O
transporte coletivo é um caos. Os ônibus estão sempre lotados e nunca chegam no
horário devido aos enormes engarrafamentos no trânsito que, diga-se de
passagem, piorou muito com os incentivos governamentais (redução de IPI) para a
venda de automóveis sem que se investisse na infraestrutura. Dos 5565
municípios brasileiros apenas cinco contam com metrô e, ainda assim, muito
precário e insuficiente para o volume de trabalhadores que se deslocam
diariamente nessas cidades.
Apenas para efeito de comparação o metrô de São
Paulo conta com 74,3 km de extensão para atender uma população de 11,3 milhões
de habitantes, enquanto que numa cidade como Paris que tem pouco mais de 2,2
milhões de habitantes a extensão do metrô é de 212 km. Da mesma forma, em São
Paulo o custo do bilhete do metrô, que volta a ser três reais após os protestos,
faz com que o custo do transporte de um trabalhador custe cerca de 180 reais
por mês o que dá quase 25% do salário mínimo que é de R$ 678,00. Em Paris um
trabalhador gasta os mesmos 180 reais por mês com o transporte, mas lá o
salário mínimo é mais de quatro mil reais (1430,22 euros), ou seja, lá o
transporte não custa nem 5% do seu salário. Antes que me critiquem, eu reconheço que há
muitas outras diferenças entre o Brasil e qualquer país europeu, mas com toda a
certeza, aqui poderia ser muito melhor do que é.
No
ranking da educação (Pearson) o Brasil ficou em penúltimo lugar na comparação
com 40 países, ficando à frente apenas da Indonésia. Países como México,
Argentina e Chile se saíram bem melhor. Ao mesmo tempo, o Brasil é um dos recordistas
em corrupção que chega a custar R$ 82 bilhões por ano aos cofres públicos. São
2,3% do PIB brasileiro que fariam enorme diferença se investidos na educação. Isto
quer dizer que cada um dos 79 milhões de trabalhadores brasileiros é roubado em
mais de 1000 reais por ano para sustentar os corruptos.
Quais
seriam os motivos para tanta corrupção no Brasil? Principalmente a impunidade dos
crimes de desvios de verbas na administração pública e o excesso de cargos em
comissão, com cerca de 90 000 pessoas recebendo enormes quantias do governo para
defenderem interesses de partidos políticos. Em países como a Grã-Bretanha, o
número de comissionados não passa de 300 e a corrupção também é muito menor.
A
saúde pública está péssima. Todos os dias morrem pessoas na fila dos hospitais
aguardando o atendimento, quando não são vítimas de profissionais mal
preparados que ministram medicamentos errados e até injetam sopa na corrente
sanguínea dos pacientes. Os 150 dias que todo brasileiro trabalha por ano só
para pagar impostos não são suficientes para garantir o mínimo de qualidade nos
serviços públicos.
Adquirir
produtos e serviços no Brasil é extremamente mais caro do que nos EUA ou
Europa. Um automóvel fabricado e vendido aqui no Brasil custa duas vezes mais
do que no México, por exemplo. O motivo disso não é somente a carga tributária,
mas porque aqui os fabricantes lucram cerca de três vezes mais do que nos
outros países e o governo não mexe uma unha para exigir um preço mais justo.
Outro
absurdo é o lucro exorbitante dos bancos e financeiras em cima de
financiamentos. No Brasil, o financiamento de um automóvel pode custar mais de 25%
ao ano enquanto que em outros países a média fica entre 4% e 8%. Em suma, para
adquirir um automóvel o povo brasileiro que recebe um salário mínimo seis vezes
menor, paga quatro ou cinco vezes mais que um europeu. Na França, um Fiat Panda
que é equivalente ao Fiat Uno brasileiro, custa cerca de 10 mil euros (30 mil
reais) e se levarmos em conta o salário de lá, um trabalhador paga menos de sete
salários mínimos pelo automóvel. Aqui no Brasil, o Fiat Uno custa mais de 24 mil,
ou seja, um trabalhador paga 35 salários mínimos para comprar um carro popular
à vista e se for financiado custará o dobro disso.
Diante
desse quadro e de tantas outras injustiças e desigualdades sociais, os
políticos brasileiros recebem os maiores salários do mundo. Assim, fazendo mais uma comparação, enquanto um deputado na França ganha cerca de R$ 21 mil (7,1 mil
euros), no Brasil um deputado federal ganha R$ 26,7 mil, o que dá 27%
a mais, mas se considerarmos que aqui o salário mínimo do trabalhador é R$
678,00 e lá são R$ 4 225,64, vemos que os políticos franceses ganham cinco
salários mínimos enquanto que aqui eles ganham quase 40 salários mínimos. Em
outros países como Espanha e Argentina os salários são bem menores: 11,1 mil e 14,6 mil,
respectivamente.
Como
se não bastasse tudo isso, vemos que o governo não procura soluções para esses
problemas, quando faz alguma coisa são apenas ações paliativas que não resolvem
o problema e no máximo dão uma falsa sensação de bem estar.
Quer
mais um exemplo de descaso? Pois bem, quando se iniciaram os protestos a
primeira atitude de Dilma foi viajar para São Paulo e se reunir com Lula e os
marqueteiros do PT. Alguém ainda tem dúvida de quais são as prioridades desse
governo? Se houvesse de fato uma preocupação em atender as reivindicações ela
teria convocado uma reunião com seus ministros, com os governadores e até com
os prefeitos, mas não, ela foi pedir conselhos a marqueteiros, pensando apenas nas
eleições de 2014!